21 de ago. de 2012

da imbecilização
do que eu acho que seja o tal fato o processo que me toma quando a vida cotidiana come todo meu tempo e atualizações ocorrem online
de como eu adoro foto dos outros e reclamo que não tenho tempo para ler
de como os livros estão ficando difíceis pela minha pouca atenção
eu que achei que era uma máquina perfeita estou a enferrujar por falta de conversas que realmente me tirem os sentidos
a falta que faz uma mesa de bar embriagada com pessoas engasgadas de coisas maravilhosas para dizer
da risada de dói na barriga e faz chorar

tudo isso não se obriga, as vezes junto ao vento chegam pessoas incríveis, que eu era (sou) capaz de reter

mas e a minha disponibilidade
e o meu desapego do ócio, da mania de se esconder em tarefas banais
da mania de achar que aqui dentro é tão mais gostoso

as vezes de madrugada tenho vontade de me lançar
mas todos estão dormindo

9 de ago. de 2012

sua boca pálida
   do vermelho que eu roubei


por que me foge agora que toda casa está arrumada para te dar vida?
um homem
pedro
um homem alto, magro e cabelo curto
já grisalho precocemente
como aquele que um dia veio tomar cerveja comigo
mas não com aquele recheio, daquele homem eu guardo o corpo
a imagem do pedro que um dia nascerá/nasceria de mim
um homem que quase se mostrou vivo num filme francês, onde muito doído de amor deitava na folhas secas com o rosto virado para o chão
nenhuma beleza para ver, só o barulho das folhas se partindo com o peso e movimento do seu corpo
esse pedro (francês) fazia as pazes com sua mulher cantando ao telefone
muito gay para o meu pedro, matei-o completamente
aqui de novo ele dorme
um dia se anunciou num conto/qualquer coisa
onde um homem alucinado na descida no metrô santa cecilia reconhece numa mulher que sobe a pessoa que ele tanto ama
numa conversa absurda (ele cego porque tal mulher amada nunca existiu daquele jeito, viva eu digo)
ele consegue envenenar a mulher desconhecida (pois toda querem aquele amor - até porque ele nunca existe) e ela passa a acreditar que sim, é ela
por medo, dor, muito o que fazer
ela se esquece do pedro (meu pedro) ela o bloqueou da sua memória. e agora sim ela sente, ela vê
oh tudo está de volta
meu pedro nesse momento morre para mim pois toda fantasia correspondida é filme de terror até onde eu pude comprovar

dias frequentes ele me aparece, ele se estiva dentro de mim e tenta sair pela fumaça do cigarro
ele diz
corre que eu vou sair
então eu antes quero perfumar toda casa para que ele venha coroado
eu apronto tudo, eu deito as crianças
eu acalmo os gatos
e ele dorme
não sou capaz de criar porque tudo existe

meu pedro (um dia teve um joão meu paulo) meu pedro não é um homem idealizado
não é um tom (iris murdoch e ana teresa pereira)
ele não é meu masculino
é como minhas filhas, mas todo dia eu o monto como um homem batata

hoje no meio de um cigarro ele se mostrou
como numa última chance, ainda esperando na subida do metrô
ainda sentado numa mesa esperando a menina de tranças chegar (kelly lima)
e eu mais uma vez fui covarde ou outra palavra (me ajude você por favor)

6 de ago. de 2012

da eternindade

hoje me disseram que alice se parece com minha mãe
isso me atingiu como um carinho absurdo, desses que só as mães são capazes
e eu sempre penso na eternidade nesses momentos
em como minha mãe e toda minha vida fica nas minhas filhas e o que de mim vai ficar nelas,
 nos que vierem de nós
a memória dos gatos, dos finais de semana em casa sem tv se jogando de um sofá pro outro
no amor que eu coloco em cada olhar demorado

marilia salvou minha vida incontáveis vezes, fez de mim um instrumento divino
sem ela eu seria uma pessoa triste e sozinha
alice é o sol

esse é o deus que habita minha casa
o amor